“Vivemos porque podemos ver,
ouvir, sentir, saborear o mundo que nos circunda”. Para que cheguemos ao
estágio de pensamento é preciso que as imagens sejam captadas pelos sentidos,
os quais irão determinar os conceitos para cada coisa. Sem essa associação, as
imagens seriam vazias e conduzidas a nada. Assim, nota-se que a sensação possui
enorme influencia sobre a vida humana, embora esta permaneça ainda pouco
explorada. “Enfeitiçada pelas faculdades superiores, a filosofia raramente
mediu o peso da sensibilidade sobre a existência humana”, assim, a filosofia
muitas vezes esteve interessada na razão do homem, e desta forma, deixou-a separada
das experiências sensíveis, o que de fato é um erro. “Todo o homem vive no meio da experiência
sensível e pode sobreviver apenas graças às sensações.”
A vida animal, que diz respeito à
vida sensível em todas as suas formas, pode ser definida de maneira simples
como uma faculdade particular de articulação de imagens. “Cada animal não é
senão uma forma particular de abertura ao sensível, uma cerca capacidade de
apropriar-se dele e de interagir com ele”. Assim como a faculdade em questão
opera sobre o alimento, a faculdade sensitiva precisa do sensível para poder
ativar-se, e esta última quem dá nome e forma aos animais. “O sensível define
as formas, as realidades e os limites da vida animal. Portanto, para que a vida
existe e se dê como experiência e sonho é necessário que exista o sensível”. As
imagens e o sensível não são frutos apenas do funcionamento cerebral, é preciso
perceber que elas existem, antes, fora de nós: “o sensível não é algo meramente
psíquico. Em síntese, sabe-se que o mero contato entre o sujeito e o objeto não
produz percepção. Para que isso ocorra, precisamos de um meio, de um espaço
intermediário que não é, contudo, um vazio, é “sempre um corpo, sem nome
específico e diferente em relação aos diversos sensíveis”, mas que, entretanto,
mantém a capacidade comum, a capacidade de poder gerar imagens. Esse corpo
intermediário se faz conhecer, em todas as suas propriedades, no espelho.
O espelho é um lugar
simultaneamente exterior aos sujeitos e aos objetos, e é nele que estes
transformam o próprio modo de ser e se tornam fenômenos, e “colhem o sensível
que precisam para viver”. O espelho é um
lugar intermediário por excelência, porém não é o único. “A imagem é a
existência de algo fora do próprio lugar”, assim, tudo que exista fora do seu
próprio lugar se tornaria imagem. De modo que, podemos dizer, não existe
intimidade nem uma oposição entre corpo (exterior) e alma (interior), mas sim,
para falarmos com Lacan, uma extimidade, uma intimidade estranha a si mesma,
que o sujeito não contém, não lhe é própria.
“O ser das imagens é o ser da
estranheza”, ou seja, as imagens não têm uma essência e um ser natural, mas sim
o que chamamos de “esse extraneum”.
A capacidade daquele que vive de
produzir imagens, “é surreal pela sua capacidade de veicular.” Se
somos afetados pelas imagens e somos capazes, ao mesmo tempo, de produzi-las,
somos vidas sensíveis. Possuímos um corpo extensivo aos limites do mundo, aos
limites do sensível.
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