segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Filme Perfect Sense

“Perfect Sense” traz à tona o romance de um casal em meio a uma epidemia mundial que ameaça roubar os sentidos de todas as pessoas. Assim, nos faz refletir sobre como seria nossas vidas sem os cinco sentidos (visão, olfato, tato, paladar e audição). Será que ainda nos restaria vida?

As epidemias que aparecem no drama ocasionam perda de sentidos, e com essa ausência o homem perde as sensações mais básicas e essenciais para sua vida plena. Não que ele não seja capaz de viver sem algum destes sentidos, muito pelo contrário, o filme relata, por exemplo, como as pessoas se adaptavam e continuavam suas vidas mesmo com a ausência de algum sentido. Mas, ao final, sem contar com nenhum destes, fica a dúvida se a vida seria possível de novas adaptações ou não.

O primeiro sentido perdido pelas pessoas é o olfato. O número de contaminados crescia de maneira extremamente rápida e logo todos estavam reféns do problema. Com essa perda, as pessoas começam a adaptar sua alimentação. Já que não conseguem mais sentir os cheiros, enchem as comidas de sal e muito tempero e assim seguem suas vidas normalmente. Mas, sem o olfato perdemos também a capacidade de associar determinados odores às mais diversas memórias, visto que estes podem nos remeter á pessoas e momentos.

A situação vai se agravando, as pessoas começam a perder os sentidos que restaram. Sem os sentidos o contato com o exterior fica extremamente restrito, as pessoas acabam presas a uma existência solitária. O final do filme chega e os personagens já desprovidos dos cinco sentidos, permanecem apenas com a razão e seus pensamentos interiores. 

A vida sensível- Emanuele Coccia

“Vivemos porque podemos ver, ouvir, sentir, saborear o mundo que nos circunda”. Para que cheguemos ao estágio de pensamento é preciso que as imagens sejam captadas pelos sentidos, os quais irão determinar os conceitos para cada coisa. Sem essa associação, as imagens seriam vazias e conduzidas a nada. Assim, nota-se que a sensação possui enorme influencia sobre a vida humana, embora esta permaneça ainda pouco explorada. “Enfeitiçada pelas faculdades superiores, a filosofia raramente mediu o peso da sensibilidade sobre a existência humana”, assim, a filosofia muitas vezes esteve interessada na razão do homem, e desta forma, deixou-a separada das experiências sensíveis, o que de fato é um erro.  “Todo o homem vive no meio da experiência sensível e pode sobreviver apenas graças às sensações.”

A vida animal, que diz respeito à vida sensível em todas as suas formas, pode ser definida de maneira simples como uma faculdade particular de articulação de imagens. “Cada animal não é senão uma forma particular de abertura ao sensível, uma cerca capacidade de apropriar-se dele e de interagir com ele”. Assim como a faculdade em questão opera sobre o alimento, a faculdade sensitiva precisa do sensível para poder ativar-se, e esta última quem dá nome e forma aos animais. “O sensível define as formas, as realidades e os limites da vida animal. Portanto, para que a vida existe e se dê como experiência e sonho é necessário que exista o sensível”. As imagens e o sensível não são frutos apenas do funcionamento cerebral, é preciso perceber que elas existem, antes, fora de nós: “o sensível não é algo meramente psíquico. Em síntese, sabe-se que o mero contato entre o sujeito e o objeto não produz percepção. Para que isso ocorra, precisamos de um meio, de um espaço intermediário que não é, contudo, um vazio, é “sempre um corpo, sem nome específico e diferente em relação aos diversos sensíveis”, mas que, entretanto, mantém a capacidade comum, a capacidade de poder gerar imagens. Esse corpo intermediário se faz conhecer, em todas as suas propriedades, no espelho.

O espelho é um lugar simultaneamente exterior aos sujeitos e aos objetos, e é nele que estes transformam o próprio modo de ser e se tornam fenômenos, e “colhem o sensível que precisam para viver”.  O espelho é um lugar intermediário por excelência, porém não é o único. “A imagem é a existência de algo fora do próprio lugar”, assim, tudo que exista fora do seu próprio lugar se tornaria imagem. De modo que, podemos dizer, não existe intimidade nem uma oposição entre corpo (exterior) e alma (interior), mas sim, para falarmos com Lacan, uma extimidade, uma intimidade estranha a si mesma, que o sujeito não contém, não lhe é própria.


“O ser das imagens é o ser da estranheza”, ou seja, as imagens não têm uma essência e um ser natural, mas sim o que chamamos de “esse extraneum”.

A capacidade daquele que vive de produzir imagens, “é surreal pela sua capacidade de veicular.” Se somos afetados pelas imagens e somos capazes, ao mesmo tempo, de produzi-las, somos vidas sensíveis. Possuímos um corpo extensivo aos limites do mundo, aos limites do sensível. 

Degustação

Logo que foi lançada a proposta de preparar alguma comida que de algum modo fosse importante, lembrei-me dos meus finais de semana com os primos. Naquela época, nos reuníamos para brincar e ao final sempre comíamos muito, e daquelas tantas comidas, a que mais gostava era aquilo que eu chamava de "brigadeirão". Com o tempo descobri que "brigadeirão" não era aquilo que eu comia, também era com chocolate e leite condensado, mas preparado de outra forma. Passei um bom tempo da minha vida sem comer aquele doce... Eu e meus primos crescemos, passamos a nos ver com muito menos frequência e os programas já eram diferentes. Mas, certo dia, durante uma noite de pijama de amigas, uma das meninas preparou aquele mesmo prato que  eu tanto gostava.. Naquele momento veio um misto de sensações e lembranças. A partir daquele dia, nas reuniões de amigas não faltava mais o meu "brigadeirão", que naquela altura já se chamava brigadeiro ao forno hahahaha. Assim, achei que nada era melhor do que prepará-lo, juntamente com uma das amigas que participava das reuniões e que também é aluna da UFSB.  

Receita: 
- 1 lata de leite condensado e a mesma medida da lata, de leite. 
- 1 colher de sopa de amido de milho.
- 3 gemas.
- 1 colher de sopa de margarina
- 10 colheres de sopa de chocolate em pó
- chocolate granulado em quantidade suficiente para decorar.

Modo de preparo:
1- bata tudo no liquidificador
2- unte um refratário com margarina, o mesmo onde vai ser servido
3- coloque a mistura e leve ao forno médio por aproximadamente 40 minutos
4- retire do forno e deixe esfriar
5- decore com o granulado e conserve na geladeira até o momento de servir.

(foto meramente ilustrativa, retirada do site: tudogostoso.com.br)
Bom apetite!

Na escuta do outro

Este foi mais um dispositivo sensível realizado e que visou trabalhar o sentido da AUDIÇÃO.

Passos: formar rodas de escuta com número semelhante de pessoas. Cada roda deve ter um ouvidor, este deverá analisar o diálogo. Só poderá falar quem estiver com a bola na mão, os outros devem apenas escutar e aguardar.
Após alguns minutos há uma abertura para debate, as pessoas devem relatar suas experiência.

Minhas percepções:

Acredito que este foi um dos dispositivos mais desafiadores, pois, estamos acostumados a falar muito mais do que escutar. No dia-a-dia, muitas vezes, sequer deixamos que o outro conclua seu discurso.

Em muitos momentos no decorrer da atividade, senti uma vontade máxima de falar, algo que me parecia ser uma necessidade. Mas, consegui respeitar o espaço e o tempo do próximo, mesmo com dificuldades, principalmente nos momentos em que gostaria de contestar algo, escutei e fui paciente.

Algo que me chamou muita atenção na atividade foi a maneira em que me senti bem ao ser ouvida. A sensação de ser ouvida me fez sentir importante. Senti que naquele momento e naquele lugar aquelas pessoas estavam preocupadas em ouvir o que eu tinha pra dizer, coisa que cotidianamente sinto em poucos momentos.

Refletindo sobre O SENSÍVEL


O sensível é o meio pelo qual desfrutamos das sensações produzidas pelos cinco sentidos  (visão, audição, olfato, tato e paladar). Através dele podemos conhecer o mundo, embora de maneira limitada. O sensível deve trabalhar juntamente com a razão. 
O conhecimento produzido pelo sensível, segundo Platão, nos permite, no máximo, opiniões. 

O sensível segundo Emanuele Coccia: "O sensível é aquilo pelo qual vivemos indiferentemente à nossa diferença específica de animais racionais: paradoxalmente, ele define a nossa vida enquanto ela ainda não tem nada de especificamente humano. Na experiência e no sonho, dormindo e em vigília, vivemos uma vida inferior ao pensamento, não necessariamente definida pela autoconsciência, e integralmente tecida pelo sensível."