sábado, 11 de julho de 2015

Desvendando a chama

►Ensaio sobre o livro A chama de uma vela- Gaston Barchelard.

“Agora que nos tornamos sensíveis aos dramas da pequena luz, com uma imagem exagerada, podemos escapar dos privilégios das imagens imperativamente visuais. Sonhando, solitário e ocioso, diante da vela, sabe-se logo que essa vida que brilha é também uma vida que fala..” (BARCHELARD, Gaston. – A chama de uma vela)

A simples e ao mesmo tempo tão complexa chama de uma vela é capaz de ativar as fantasias da memória, a poética da intimidade, instigar a imaginação e meditação, sendo assim uma valiosa experiência dos sentidos, onde cada detalhe instiga uma percepção e sensação diferente, de modo a tocar e alcançar a sensibilidade do sonhador, observador, indivíduo.

A chama se torna um verdadeiro mundo de fantasias e ideias íntimas e individuais, as quais ao mesmo tempo são capazes de englobar todo um mundo. Esse tal fogo que se forma a partir da vela acentua o prazer de ver algo além do que é sempre visto. Isto é puramente uma experiência do sensível. Pode-se dizer que é muito mais do que simplesmente olhar, é ver.

O ato de verdadeiramente VER possibilita a existência de percepções sobre aquilo que está oculto e vai muito além do ato de fixar os olhos em alguma coisa ou situação. O ato de ver faz com que seja estabelecida uma relação de conhecimento por meio do sentido da visão, o qual irá relacionar determinada imagem a conhecimentos prévios. Mas será que é possível olhar sem ver? A resposta é simples e direta: sim. Atualmente, as pessoas estão atarefadas, ocupadas, com diversas situações acontecendo ao mesmo tempo e, neste cenário, muitas coisas passam despercebidas ao olhar dos indivíduos, principalmente as pequenas. O vento que sopra e balança as folhas das árvores, a onda que vem e volta para o mar, o sorriso depois de um beijo, o olhar aflito de uma pessoa que sofre... Estes são exemplos de situações que deixam de ser realmente vistas por falta de sensibilidade de quem está olhando, isto acontece muitas vezes pela correria do dia a dia e pela simples falta de tempo.

É preciso educar os olhos e estar sensivelmente preparado para sentir e perceber pequenos detalhes que nos levam a um mundo cheio de fantasias e mistérios interiores. E é isto que tanto a chama de uma vela, como outras experiências do sensível buscam despertar.

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