►Ensaio sobre o livro A chama de uma vela- Gaston Barchelard.
“Agora que nos
tornamos sensíveis aos dramas da pequena luz, com uma imagem exagerada, podemos
escapar dos privilégios das imagens imperativamente visuais. Sonhando,
solitário e ocioso, diante da vela, sabe-se logo que essa vida que brilha é
também uma vida que fala..” (BARCHELARD, Gaston. – A chama de uma vela)
A simples e ao mesmo tempo tão
complexa chama de uma vela é capaz de ativar as fantasias da memória, a poética
da intimidade, instigar a imaginação e meditação, sendo assim uma valiosa
experiência dos sentidos, onde cada detalhe instiga uma percepção e sensação
diferente, de modo a tocar e alcançar a sensibilidade do sonhador, observador,
indivíduo.
A chama se torna um verdadeiro
mundo de fantasias e ideias íntimas e individuais, as quais ao mesmo tempo são
capazes de englobar todo um mundo. Esse tal fogo que se forma a partir da vela
acentua o prazer de ver algo além do que é sempre visto. Isto é puramente uma
experiência do sensível. Pode-se dizer que é muito mais do que simplesmente
olhar, é ver.
O ato de verdadeiramente VER
possibilita a existência de percepções sobre aquilo que está oculto e vai muito
além do ato de fixar os olhos em alguma coisa ou situação. O ato de ver faz com
que seja estabelecida uma relação de conhecimento por meio do sentido da visão,
o qual irá relacionar determinada imagem a conhecimentos prévios. Mas será que
é possível olhar sem ver? A resposta é simples e direta: sim. Atualmente, as
pessoas estão atarefadas, ocupadas, com diversas situações acontecendo ao mesmo
tempo e, neste cenário, muitas coisas passam despercebidas ao olhar dos
indivíduos, principalmente as pequenas. O vento que sopra e balança as folhas
das árvores, a onda que vem e volta para o mar, o sorriso depois de um beijo, o
olhar aflito de uma pessoa que sofre... Estes são exemplos de situações que
deixam de ser realmente vistas por falta de sensibilidade de quem está olhando,
isto acontece muitas vezes pela correria do dia a dia e pela simples falta de
tempo.
É preciso educar os olhos e estar
sensivelmente preparado para sentir e perceber pequenos detalhes que nos levam
a um mundo cheio de fantasias e mistérios interiores. E é isto que tanto a
chama de uma vela, como outras experiências do sensível buscam despertar.